30 de jun. de 2010

o outro ou interno-externo

Você é tudo que eu não sou
e me diz isso sempre
que eu não estou

você é o mundo de repente
arquiteto sem emprego
'inda assim independente

quando te perguntam o nome
você nunca pensa em dizer
o de outra pessoa

e quando te elogiam
você nunca olha pro lado
como fosse pra outra pessoa

(-Eu não sei pra que lado
que eu quero cair
pulei do muro ao telhado
só pra não decidir.)

você é tudo que não consigo
é o poema de amor
a segurança do abrigo
a tranquilidade conjunta
o destemido no escuro
prefeito de si,
o dono do muro.
que vergonha de existir
queria entrar num buraco
pra nunca mais sair

29 de jun. de 2010

minha lógica não tem lógica
ela, pobre, é só minha
só quero o que for meu
se me valer pelo que eu tinha

minha lógica me rabisca
e rabiscado pouco me entendo
quero caneta que não escreva
quero dinheiro pra estar devendo

a lógica nunca tem lógica
e esse fim não tem fim
tivesse seria sem graça,
já tem tão pouca sendo assim
Eu queria ter acreditado em tudo que eu te disse. No escuro você subiu em cima de mim numa reprise de anos atrás. E agora você deve achar que eu só te quis pelo seu corpo. Não foi só isso, eu estava um pouco perdido. Perdido e bêbado.
Fiz algumas concessões a você mas não foram muitas, você se adaptou muito mais a mim do que eu a você. Quando a gente se encontrou um pouco depois você mal me cumprimentou e eu não entendi porque na hora. (O cigarro que a gente dividiu você olhou com nojo, aquela cara de nojo perfeita que você sempre teve).
Hoje eu entendo o porque.
Só queria mesmo que você soubesse que não foi tão intencional: só te enganei por me enganar também.
Distante disso
porque sou só margem.

Longe dos teus
que não gostam de mim
me fiz onipresente
no encostamento seu.
Pudera... Fosse diferente,
nem seria eu.

28 de jun. de 2010

fingir é mais fácil que ser

vou fingir que eu tenho amigos
talvez eu acredite
vou fingir que tenho amor
quem sabe ele existe
vou fingir que me tenho
talvez acredite

e acreditando talvez eu tenha mesmo

27 de jun. de 2010

juro que tentei
corri corri corri
mas não fiquei pequenininho,
eu fiquei aqui

26 de jun. de 2010

oito ou oitenta:
me liga e me ama
ou nem me atenda

25 de jun. de 2010

Luisa, Luisa, Luisa,
você veio falar comigo
e não te dei atenção
não quero ser seu amigo,
quero seu coração
Ai, Luisa, não chora não
tá tudo bem, eu to aqui
queira você ou não

24 de jun. de 2010

a falta*

toda a falta que a falta faz
talvez ajude o poema
mas pra mim é demais

toda a falta que a falta faz
não é desculpa pra essa
imensa falta de paz

a veia salta e a falta traz
nada que a veia pede
nada que satisfaz

toda a falta que a falta traz
faz de mim muito menos
do que de mim me desfaz



*Poema dedicado à Jay Vaquer e ao meu subconsciente. Ao primeiro por inventar a frase e ao segundo por decorá-la me fazendo acreditar que eu a tinha inventado.

23 de jun. de 2010

eu

Alergia ao Sol
alergia à gente
alergia à mim.
Se é como Deus quer,
amém. Seja ssim.
estava ficando gordo, tentei
dieta de Prometeus
todo dia me comem o fígado
só porque briguei com Deus
Não pense demais na morte
deixa isso pra mim.
E não ouse se matar
porque você até pode fugir
mas não fugir assim.
para uma vida (não necessariamente melhor ou mais feliz)

Aceite que é preciso escolher.
Escolha o que lhe convir.
Aceite o que escolher.

22 de jun. de 2010

e talvez nem seja elogio
mas me deixou qualquer tanto mais feliz
mesmo sem ter, sem perceber
eu pouco pude, mas tudo fiz

21 de jun. de 2010

meu quarto: aurora boreal
sol desfeito em arco-íris
nas várias cores do vitral
Não sei se tudo vai embora
é por causa deles ou porque faço:
pegar o ônibus, perdi a hora;
isqueiro em riste, perdi o maço.
olhos fechados
dente no dente:
vocês tão perfeitos
eu tão doente

20 de jun. de 2010

olho por olho
dente por dente
vocês tão perfeitos
eu tão doente

16 de jun. de 2010

desconsolo de um cantor (para elliott smith)

música triste quando estou triste
música triste quando feliz
música triste, música triste
música triste: tudo que fiz
-Com essa saudade, como é que faz?
-Dá um trago maior e me deixa em paz.

-E amigos que nem tenho mais?
-Deles fugiu: não dá, não traz.

-E o bom dia a cavalo que sempre dou?
-Finja de louco. Dizem que eu sou.

-E o medo do escuro ao meio dia?
-Sol sempre muda: esquentava, esfria.

-E o desespero, como é que aguento?
-Isso eu não sei, eu já nem tento.

-Mas se tudo isso ficar demais?
-Nunca é sempre mas nunca é jamais.

14 de jun. de 2010

o tempo

você não pára de passar
e está sempre na minha frente
é tão veloz seu galopar
meu engatinhar, deficiente
madrigal em tese musicado

Voce me viu
e passou por mim
eu nem vi

Voce me viu
e quando eu dei por mim
(mal dei por mim)
você já estava longe

Vem aqui agora!
Eu quero te ver mais
então vem sem demora
que eu quero te ver mais

Você ouviu
o que eu disse à eles
mas eu não disse nada

Você ouviu
foi o que eles disseram
(mal-disseram)
amor, isso não é nada

Enquanto eu dormia
você passou por mim
raiou a agonia
que dia mais sem fim

Enquanto eu sonhava
com gente afogando
você passava
mas onde, como, quando?
Misantropia e solidão
só são bonitas no papel,
por aqui não fazem charme.
Aqui não faz nem sombra:
aqui não tem nem céu.

13 de jun. de 2010

Eu me escondi nos cantos da sua cidade. (E digo sua cidade porque nós sabemos bem que a cidade é sua e não minha ou nossa. Não faço a menor diferença nela enquanto você influencia em quase todo aspecto dela). E pelos cantos andando, me escondendo, passando arrastado pelas paredes, eu descobri que do canto só tem saída, não tem outro caminho. Percebi isso e saí do canto que eu estava. Andando cheguei ao meio da cidade e, é claro, te vi lá com seu cetro não mão. Coroa também etc. Você brilhava tanto que fiquei cego. Cego andei a esmo até chegar numa parede, pela parede me orientei até um canto. Só tem um problema: agora que ceguei não consigo mais me orientar pelo seu brilho.

11 de jun. de 2010

dorme neném que a culpa vem pegar
papai foi, não volta, mamãe te sustentar

10 de jun. de 2010

Pecado

Luisa, é pecado
não a traição
e (talvez) nem o machucado
nesse seu coração.

Luisa, o pecado:
o anel que jaz na tua mão.
Queria passar só um dia com quem já passei anos. Anos de memórias escondidas não valem nada.

9 de jun. de 2010

canção da repetição

I know that you think that I'm
just a book on your shelf
and that you just don't love me
'cause I don't love myself

well, I think you're mistaken
you're not seeing it right
when you pick me to read
you only do it at night

and you can't see straight
you read all my words wrong
you think that I'm screaming
when it's actually a song.

You got bruises on your knuckles
you think someone else done
but I remember it clearly
you did it on your own.

That night you came back running
you said that you wanted me
and I kind of regret it
cause I always believe.
Yeah, I always believe.
O carteiro e os carteiros

Eu pedi felicidade e me trouxe uma carta
pedi alegria e me deu uma carta
pedi chuva, inverno e alívio
mas só veio carta

Então aprendi:
pedi por contas sem fim
e contas vieram
pedi propagandas, assim
propagandas vieram

Pedi tristezas e, enfim,
numa carta trouxeram
tristezas pra mim

Passei anos nisso
mas foi uma vez
quando chegaram de dia
eu pedi de consolo
só uma alegria
mas negaram ao tolo
que nunca aprendeu:

na casa e cartas o inferno
nos outros o eu.
Uso a mesma cueca à seis dias
esqueci de tirar porque esqueci se dormi
fiz concessões ao meu corpo
mas até nisso eu menti

prometi: vou trocar
elas todo santo dia
mas ele, bobo, não viu
com as mesmas me vestia.
Vida fosse perene
perderia o sentido:
se eu fosse só eu
já teria morrido.

6 de jun. de 2010

segunda escolha, penúltima saída

Não vou mentir que penso sempre em você
mas penso de vez em quando
e da última vez, não sei porquê,
você odiou o seu corpo

mas seus peitos são bonitos
e suas palavras também
só que nunca acreditou nos elogios,
nem eu: acabamos sem ninguém

e eu morro de medo
de ter te estragado a vida
desculpa não dar todo o valor
à você, penúltima saída.
prólogo pra canção dos domínios da mente

tem uma araucaria no coração
dum menino duma canção

tem uma cobra e também
um deserto na minha mente
e já nem sei que é,
o que faz nem se sente

por favor diz pra mim
como é a canção
dos domínios da mente
que eu perdi o refrão

3 de jun. de 2010

Sua orelha esquerda, Luisa
tem duas pintas juntinhas
e seu amor por Cristo
faz de suas manhas minhas

Seu cabelo é curto
cai desarrumado em poucos fios
ao lado direito do rosto

Suas unhas pintadas
combinam com sua roupa
e com seus olhos
que com amor não me olharão
cedo mandei um beijo
você me mandou um não.

2 de jun. de 2010

juro vou sair daqui, ir pra rua e vou andar
e nunca mais vou ver ninguém
sem ninguém, pra quê chorar?
a gente só chora por alguém
questiono se meu cérebro é de um só

é que não sou só eu
tanto que não sei quando estou sozinho:

era ele ou estou nela (se há privacidade)
eles que fui ou nós que estam-
é de quem
essa mão do meu braço
esse mar no meu rosto
essa dó no meu quarto?

1 de jun. de 2010

antes queria não podia
hoje posso já não quero
vida: prova
tirei zero