31 de jul. de 2009

olha, não foi uma
foram duas, três
e foram tantas
que se eu ouvir você dizer
'sei lá' mais uma vez
eu enfio o sei lá na sua garganta

28 de jul. de 2009

senhor câncer

Câncer, meu bom senhor
venho por meio desta
pra te pedir um enorme favor
me livre da sua festa
de reprodução
pelo menos até eu fazer trinta
ou falhar uma ou duas vezes
do coração
poderia também
(se não for incômodo)
poupar-me o último vintém
e não prolongar com metástase
se poderia acabar-me logo
o que pra mim quase não tem nome
e pra você é só criar prole

22 de jul. de 2009

nossa senhora, querida
Deus te deu atributos
que poucos cirurgiões
tem a coragem de conceder
odeio rimar verbos
e quem não odeia
mas de que vale a rima
se a métrica é feia
pelos meus cálculos
fazem 3 dias
que eu não durmo
troquei minha vida
e alegrias
por palavras de despedida
e um cochilo diurno

14 de jul. de 2009

juro que te quero
e eu te espero
mas que desespero
te esperar no banheiro

10 de jul. de 2009

cortei uma árvore
queimei um livro
fiz vasectomia
não me sinto mais vivo
não me sinto mais livre
fico mais velho e mais chato
devia ter queimado uma floresta
uma biblioteca
um orfanato
você morre de ciúme
mas eu volto pra casa sozinho
como é de costume

7 de jul. de 2009

o cara olha de um lado e de outro e joga
branca bate na cinco que bate na quinze
que bate num canto e bate na dois
e é ponto pra mim

3 de jul. de 2009

Deus! que tédio
reciclo poemas
pra não pular do prédio
não adianta rezar, pedir ou pagar
daqui eu não saio
vou morrer sentado nessa cadeira
com um pouquinho de sorte
essa tal de vida
acaba depois da morte

2 de jul. de 2009

ainda faço poesia
que deixe Chico Buarque
morrendo de azia
é notório
que suas coxas abrigaram
mais que carícias amigas
que depois do bar e de brigas
o vencedor deu-se o direito
de abusar e de por defeito

povoaram imenso azul
com peixes aves estrelas
e as moças no meio
sem querer eram lindas, e sê-las
era tão fácil pra ti
que achou feio
o mundo que inventei fácil
e numa carta te escrevi